Página Principal de Nilma Lacerda - escritora, pesquisadora e professora

Sobre a Obra

Em tantas-uma

Decerto que o sentido de existir consiste em atar a ponta da morte à ponta da vida. Difícil, pois, é saber onde cada qual começa. Onde começa a mulher e onde está a menina nessa mulher. Com a mistura de tantas fibras, o livro da vida da gente é um eterno circular de fibras com o qual nos recriamos. Contudo, o que nos cabe entre a Aurora e a noite? O quanto da luz do Sol tem de Aurora, nas manhãs tecidas nesta teia tênue que chamamos sutil e bruscamente de vida? E é da aurora, mansa e imperceptível que começamos a escrever a nossa história tantas vezes lida.

Mas a menina e a mulher são duas, três, mil ou mais em apenas uma. Ouvindo a voz suave da mãe na leitura da Revista Grande Hotel, ou do Mestre Silviano Santiago que a leitura é uma atividade perversa, a menina-mulher se reconstrói a cada instante para tecer com palavras o anseio de futuro. Ainda que adulta e madura para comunicar sua perplexidade, nas fibras dessa mulher habita vivíssima a menina fugidia para lhe garantir o riso.

Tudo isso traduzido pela literatura, esse diário de navegação da palavra que faz com que ler e escrever sejam uma forma capital de ser. Essa trapaça salutar que corrige distâncias e permite que o alimento da leitura chegue como o pão sagrado da igualdade.

E nessas tantas-uma é que se pode atar os fios da professora ingênua com os do aluno rebelde na grande tapeçaria humana. Nessa tantas-uma é que se pode saborear as Fatias do Mundo para encontrar Aurora mergulhando os dedos no tinteiro;  pode-se escrever cartas do São Francisco, viajar por doidas histórias na estrela-de-rabo... Nessas tantas-uma está Bárbara: essa grande leitora do mundo que desperta debaixo de chuva...


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Cezar Augusto Rufino de Santa Ana
Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira
I Encontro de Leitura da Costa do Sol. São Pedro da Aldeia – RJ
25 a 27 de outubro de 2010

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