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Prática Acadêmica

A língua portuguesa no coração de uma nova escola

co-autoria com Pensilvania Diniz G. Santos e Regina Lúcia F. de Miranda

Capa do livro A língua portuguesa no coração de uma nova escola"Eu não tinha a mente virada para a literatura, não conseguia desenvolver os desenhos, não conseguia desenvolver uma carta, enfim não tinha ideia nenhuma. Mas graças à sua aula maravilhosa, eu consegui fazer com que nascessem novas ideias para que eu não me sentisse pequeno diante de muitos que se diziam ser inteligentes."

Marcos Antônio Santos Silva
aluno do Centro Interescolar Municipal Anísio Teixeira/ Rio de Janeiro

As escolas em geral partem do pressuposto de que as crianças são inteligentes e aprendem sozinhas, ou não são inteligentes e não há nada a fazer. Elas cumprem então o tempo da escolaridade previsto por lei, que serve para reafirmar sua incapacidade, sendo lançadas na sociedade como indivíduos desacreditados.

Ensinar ao inteligente, acreditar em quem se acredita é muito fácil. Ensinar a acreditar em si aquele que não se acredita, desenvolver a inteligência onde ela não parece existir é o desafio que espera o professor da escola pública. O que pode acontecer nesta escola – da qual não se espera muito – quando alguns professores assumem corajosamente o papel de indignados com a crueldade da exclusão prévia?

Acontece uma outra escola, em que os professores desrespeitam expectativas de fracasso, escutam nos alunos os sinais da inteligência adormecida. Temperam a impaciência e a indiferença dos governantes com sua emoção e saber. Trabalham com seres humanos nos quais reconhecem a dignidade e a latência de um poder que precisa ser estimulado. Inteligência é poder e quem vai à escola acredita de alguma forma na conquista do poder.

A língua portuguesa no coração de uma nova escola, relato de um trabalho alternativo em Língua Portuguesa na rede pública do município do Rio de Janeiro (1978 a 1989), é a crônica de uma escola desejada e possível, construída nas certezas e incertezas do dia a dia, com a paciência de quem guarda o fruto amadurando no pé e com a ousadia de quem não aceita que seu aluno continue pequeno.

Apresentação João Wanderley Geraldi

Três professoras vão à luta, armadas pela vontade de viver e pela certeza de que a vida é possível, mesmo nas escolas brasileiras, onde se reúnem pessoas cada vez mais espoliadas de tudo, até de seus sonhos. Trazem vida para a sala de aula e encontram nos alunos companheiros de múltiplas descobertas. Não devolvem a palavra aos silenciados apenas por opção ideológica nem caem numa pedagogia de facilitação: trabalham juntos, duramente. Escrevem textos como escrevemos todos nós: uma primeira, uma segunda, uma terceira versão e ainda assim, insatisfeitos, relemos, cortamos, podamos, acrescentamos, substituímos até darmos por pronto o que sabemos sempre inacabado. Leem outros textos e reencontram na experiência do Outro a própria experiência: viver é feito à mão. Muitas mãos. Fazem filme, estes loucos!

Fazemos o que fazem, re-situam a língua materna no coração de uma nova escola a construir. Sem linguagem, nenhum outro saber é acessível; sem emoção, o conhecimento se reduz ao que foi e não ao que pode ser: espaço de reflexão que constrói a alegria de aprender e produzir. Deste livro, nenhum leitor sai como chegou. Por isso, vale a pena lê-lo.


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A língua portuguesa no coração de uma nova escola, em co-autoria com Pensilvania Diniz G. Santos e Regina Lúcia F. de Miranda. Prefácio de Magda Becker Soares. São Paulo: Ática, 1995 (Série Educação em Ação).
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