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Ficção que crianças e jovens também leem
Um dente de leite, um saco de ossinhos
Acervo básico da FNLIJ.
Imagine uma menina nem grande de mais, nem pequena de menos, que um dia a tia diz assim: – Virgem, parece até que essa menina é comadre da Morte! Imaginou? Pensou no que ela fez com isso? Pois, na verdade, ela não dormia direito de noite, não ficava em paz de dia: a Morte esperava para atacar de surpresa, sem parar, sem parar. Então, um dia – não adianta contar: você precisa ler este livro! Um mundo perto, e longe de nós, feito de palavras, de traços, de cores e de um saber especial sobre a Vida, sobre os encontros da vida com a morte.
Apresentação Luciana Sandroni
Será mesmo que alguns temas na literatura para criança são tabus? Será que não podemos falar de certas coisas como... a morte? Mas a morte faz parte da vida, e ela está presente em quase todos os contos de fadas, e os contos de fadas e as histórias orais estão aí bem vivos nos livros infantis. Em alguns dos clássicos da literatura infantil, as personagens morrem e ressuscitam na página seguinte. Às vezes, não há o famoso final feliz: as personagens principais morrem de maneira trágica. E os autores contemporâneos – num tempo em que os escritores para crianças já não estão mais preocupados em transmitir certezas – também tratam da morte em vários de seus livros.
Em Um dente de leite, um saco de ossinhos, Nilma Lacerda nos apresenta Anita, uma menina muito especial, nem grande de mais, nem pequena de menos. Uma menina que tem um bocado de tias muito velhas, que têm muitas comadres, também muito velhas. Anita vive no mundo das tias velhas, vive ouvindo os palpites das comadres e os capítulos das novelas das tias. E nesse mundo caduco das novelas sem vida, de palpites e café com bolinhos, Anita acaba tomando os hábitos das tias.
E Anita tem cada pensamento esquisito... cada sonho... cada medo... Mas medo de quê? Quem sabe da morte? Ou será que é de morrer? Anita pensa em cada coisa tão fora do comum que ninguém a entende e aí vive cheia de aflições. Até que uma das tias, a mais velha de todas, sem querer lhe dá uma ideia. E Anita não para mais de pensar no que a tia falou. E o jardineiro Giardino, um homem muito sábio, a ajuda a pôr o plano em ação.
E se o plano funcionar, a Morte pode aparecer. E aí como será? Anita pode ficar amiga dela. Elas podem, quem sabe?, até tomar café com bolinhos como as tias de Anita e as comadres. As duas podem conversar. E podem se visitar sempre. E já pensou o que todo o mundo ia achar disso?
Nilma Lacerda, com seu texto bem-humorado, divertido e extremamente delicado, mostra que o medo da morte também faz parte do dia a dia de uma criança e convida o leitor a enfrentar esse medo cara a cara transformando-o em alguma coisa como um vento forte que o puxe da cadeira e o faça sair para a rua e ver o céu, as árvores, as pessoas, enfim, o mundo pulsando lá fora.
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